segunda-feira, 28 de março de 2011

Nova Semana !!!

Todo dia é um novo desafio a vencer. Desafios que, aos olhos de muitos, podem parecer tão simples e, para outros, tão complexos e insuperáveis.Cada desafio nos ajuda a valorizar a nossa condição de humanos...Aceitar que temos direito a errar, aprender e superar - sem deixar que a luta diária se torne uma prisão.Dinheiro não é tudo na vida e nem tudo tem preço.É preciso resgatar a família e, de verdade, dedicar o tempo de que precisam nossos filhos, irmãos, esposas, maridos, mães, pais, avós...Resgatar a verdadeira amizade, essa que não morre nunca, porque não tem compromisso nem laços e surge livre e espontânea, sem pedir nem exigir nada.Resgatar a confiança das pessoas.Acreditar na palavra...Cultivar e propagar a honestidade.Exigir o que é justo, fazer valer os seus direitos e respeitar os direitos dos outros.Nunca foi tão necessário voltar a acreditar...E não é só falar:É preciso assumir o compromisso pessoal de espalhar na sociedade um vírus e ver se, duma vez por todas, conseguimos uma mudança real para o Brasil que deixaremos aos nossos filhos e netos. Sabemos que o tempo é curto. Então é tempo de começar.
Tenha uma Ótima semana, Nino D'Odé.

sábado, 26 de março de 2011

Legislação





Legislação e Candomblé
(Extraido da revista Orixás)


Conheça seus direitos

Exercer a cidadania passa necessariamente por um reconhecimento dos direitos e deveres a que todos estamos submetidos.Os adeptos do Candomblé têm sido constantemente aviltados, vilipendiados, impedidos de gozar de direitos que a legislação vigente lhe assegura.O que acontece é que infelizmente boa parte dessas pessoas não sabem que a lei assegura a prática de suas liturgias e qualquer cidadão tem o direito de professar a religião que bem entender e isso é mais que um direito assegurado pela constituição da República Federativa do Brasil, é trecho essencial da declaração universal dos Direitos do Homem.Portanto, vamos fazer valer os nossos direitos, vamos exigir respeito e tolerância.


Não se deixe humilhar, se alguém ofender sua crença, sua religião, saiba que há leis que a protegem

Pensando nisso,vamos transcrever um artigo que consta do livro Candomblé:a panela do segredo, de Pai Cido de Oxum (3.ed., São Paulo:Arx, 2002), para difundir entre o maior número de pessoas os direitos que a legislação assegura a todos os cidadãos brasileiros, inclusive para os adeptos do Candomblé.
Não se deixe humilhar, se alguém ofender sua crença, sua religião, saiba que há leis que a protegem e cobre das autoridades competentes as devidas providências, previstas, inclusive, no código penal.Leia com muita atenção e guarde na memória os artigos, parágrafos e incisos que podem, e devem ser evocados caso sua religião ou você enquanto fiel sejam desrespeitados.


Legislação e Candomblé

Babalorixás e iyálorixás devem ser conscientes de suas obrigações com a sociedade e com os deuses africanos, e essa tendência, felizmente, tem se solidificado ao longo desses anos.Muitos.porém, desconhecem seus direitos, deixando-se subjulgar e admitindo ser tratados como cidadãos de segunda categoria.


Por se tratar de religião e cultura, o Candomblé é duplamente protegido na forma da lei pela Constituição da República Federativa do Brasil.

É preciso, portanto, difundir os direitos dos adeptos do Candomblé,bem como dos templos religiosos, assegurando a liberdade e a igualdade entre todos os brasileiros, independente de sexo, cor, situação social ou religião.
O grande desafio que se impõe ao Candomblé na atualidade é ser reconhecido como religião. A questão, embora muito clara para intelectuais de diversas áreas, sobretudo a antropologia e a ciências sociais, ainda permanece como uma incógnita para a sociedade, que não diferencia as religiões definidas como mediúnicas das de origem renciação e conhecimento;Candomblé é religião, não é seita".Que fique bem claro, especialmente para os adeptos do Candomblé (já que qualquer movimento de revalorização começa de dentro pra fora).Candomblé é religião e muito mais, pois, ao preservar tantas tradições trazidas por nossos antepassados negros, tornasse um importante foco de resistência da cultura afro-brasileira .Por se tratar de religião e cultura, o Candomblé é duplamente protegido na forma da lei pela Constituição da República Federativa do Brasil. Outrossim, artigo 208 do Código Penal Brasileiro prevê, para o crime de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo, pena de detenção de um mês a um ano ou multa.Para que todas as pessoas que professam o Candomblé fiquem cientes dos seus direitos é bom observar com atenção os artigos constitucionais que podem que podem e devem ser evocados quando qualquer cidadão sentir-se aviltado no que diz respeito à liberdade de crença religiosa.O artigo 5° da Constituição Federal assegura:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes à igualdade, à segurança e à propriedade.

O estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional.

Portanto, como a instituição assegura que não deve haver distinção de qualquer natureza, católicos, protestantes, evangélicos, umbandistas, espíritas, budistas, mulçumanos, membros do Candomblé e etc... são iguais em direitos e obrigações, estamos pois, submetidos às mesmas leis e devemos observar o inciso VI do artigo 5° da Carta Política de 1988, que diz:
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma , da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias.Ainda na Constituição Federal, o parágrafo 1° do artigo 215 deixa muito claro que o Candomblé que é também evidente manifestação da cultura popular afro-brasileira, pode contar com a proteção do estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Parágrafo 1°. O estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e dos outros grupos participantes do processo civilizatório Nacional. Na legislação infraconstitucional diretamente relacionada ao inciso VI do artigo 5°, o artigo 208 do Código Penal, merece menção, haja vista dos crimes que define têm sido cometidos frequentemente contra adeptos das religiões afro-brasileiras sem que se tomem providências primeiramente por uma nítida falta de interesse das autoridades e depois por que os adeptos, na maioria das vezes, não sabem que tais atos constituem crime.

Fazer uma oferenda numa encruzilhada é um direito,assim como é um direito do crente pregar em praça pública ou do católico fazer procissões.

Artigo 208.Escarnecer de alguém, publicamente, por motivos de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Parágrafo único.Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente violência.
Como fica a situação quando a polícia, respaldada pelo poder do estado, infringe a lei?Se considerarmos que a proteção aos locais de culto e as suas liturgias é garantida na forma da lei, é dever da polícia, quando solicitada, prestar assistência aos adeptos para que possam cumprir seus rituais com segurança e não impedi-los por exemplo , de fazer suas oferendas.
Fazer uma oferenda numa encruzilhada é um direito, assim como é direito de um crente pregar em praça pública ou do católico, fazer procissões.A polícia também não pode invadir um terreiro de Candomblé, a menos que observe os trâmites legais.Todos tem direito a liberdade religiosa, que não atinge um grau absoluto, pois não são permitidos a nenhuma religião ou culto, atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilidade civil e criminal.


Todos tem direito à liberdade religiosa, que não atinge um grau absoluto.

Um adepto de determinada religião por exemplo, não pode evocar inciso VI do artigo 5° da Constituição, ou seja, suas convicções religiosas para livrar-se dos crimes estipulados no artigo 208 do Código Penal.Há que se observar o inciso VIII do artigo 5° da Constituição, que diz:
Ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou convicção filosófica ou política, salvo se as evocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. O Brasil, por meio do Pacto de São José da Costa Rica, se comprometeu a respeitar o sentimento religioso, avaliando o documento que no artigo12.1 da Convenção, diz:
Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.
Devem os templos de Candomblé e seus sacerdotes começar a reivindicar os privilégios e isenções que a lei assegura aos ministros de confissão religiosa e às suas igrejas, como o direito à prisão especial, a contribuição, a Previdência Social na qualidade de sacerdote e a desobrigação de recolher alguns impostos como o IPTU.
É também importante difundir a lei n° 7.716, de 5 de janeiro de 1989, não só entre as pessoas do Candomblé mas para toda a sociedade, especialmente entre negros que sofrem muito mais com o preconceito que, mesmo camuflado pelo mito da democracia racial, existe no Brasil.

Ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou convicção filosófica ou política.

Isso serve para ratificar que o caminho para viver plenamente a cidadania é o da consciência, que passa, necessariamente, pelo reconhecimento das leis que asseguram os direitos de todos os cidadãos brancos ou negros, crentes ou de Candomblé, ricos ou pobres.









sexta-feira, 25 de março de 2011

VAMOS REFLETIR UM POUCO ????


Prece indígena


Diz uma prece indígena:

"Deixem-me seguir as pegadas do meu inimigo por três semanas, carregar o mesmo fardo e passar pelas mesmas provações que ele, antes de dizer uma só palavra de desaprovação à sua conduta".

São palavras que encerram uma profunda sabedoria. Julgar o procedimento alheio, sem antes procurarmos entender os motivos que o levaram a agir assim, é o caminho mais fácil, porém é também o que mais nos leva a cometer injustiças.

Sempre esperamos que os outros entendam nossas motivações e quando não o fazem nos sentimos injustiçados.

Mas será que nós procuramos sempre entender as razões alheias?

Será que, ao menos por um instante, seríamos capazes de tentar imaginar como agiríamos se estivéssemos no lugar da outra pessoa?

Poucos de nós ao menos tentam.

Mas, a maioria de nós não hesita em desaprovar tudo que esteja contrariando aquilo que considera "certo".

Experimente, ao menos uma vez, carregar o fardo de seu inimigo, antes de julgá-lo.





Babá NINO D'Odé.


*****



Tá Reclamando de que? 
 Reclamando do Lula? do Serra? da Dilma? do Arrruda? do Sarney? do Collor? Do Renan? do Palocci? do Delubio? Da Roseanne Sarney? Dos politicos distritais de Brasilia? do Jucá? do Kassab? dos mais 300 picaretas do Congresso? 

Brasileiro Reclama De Quê
O Brasileiro é assim: 
1. - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.

2. - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.

3. - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.

4. - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura.

5. - Fala no celular enquanto dirige.

6. -Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.

7. - Pára em filas duplas, triplas em frente às escolas.

8. - Viola a lei do silêncio.

9. - Dirige após consumir bebida alcoólica.

10. - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

11. - Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas.

12. - Pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.

13. - Faz 
gato de luz, de água e de tv a cabo.

14. - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.

15. - Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda para pagar menos imposto.

16. - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.

17. - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10 pede nota fiscal de 20.

18. - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes.

19. - Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.

20. - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

21. - Compra produtos pirata com a plena consciência de que são pirata.

22. - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.

23. - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.

24. - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.

25. - Freqüenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.

26. - Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo.

27. - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha.

28. - Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.

29. - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.

30. - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

E quer que os políticos sejam honestos...

Escandaliza- se com a farra das passagens aéreas...

Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo ou não?
Brasileiro reclama de quê, afinal?

RECLAMA QUE ESTÁ CALOR, QUE ESTÁ FRIO, QUE ESTÁ CHOVENDO, QUE ESTÁ SEM DINHEIRO, QUE A VIDA ESTÁ RUIM, QUE NÃO TEM O QUE QUER ......

E é a mais pura verdade, isso que é o pior! Então sugiro adotarmos uma
mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário!
Vamos dar o bom exemplo! 
Espalhe essa idéia!

"Fala-se tanto da necessidade deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores (educados, honestos, dignos, éticos, responsáveis) para o nosso planeta, através dos nossos exemplos..." 

Amigos! 

A mudança deve começar dentro de nós, nossas casas, nossos valores, nossas atitudes!

ESPERO PODERMOS REFLETIR UM POUCO SOBRE ESSAS PALAVRAS, DESEJO A TODOS OS MEUS AMIGOS E FILHOS QUE TENHAM UMA ÓTIMA SEXTA FEIRA REPLETA DE PAZ NO CORAÇÃO E FELICIDADE, VAMOS ABRIR NOSSOS OJÚS E FAZER COM QUE NOSSAS VIDAS SEJAM MAIS ODARAS, A VIDA NÃO É RUIM, COMO DIZ SR. GIRA MUNDO A NOSSA VIDA É RUIM PORQUE FAZEMOS DELA UMA MERDA, MAS JÁ QUE É ASSIM VAMOS APRENDER A ADUBAR A VIDA !!!.


FORTE ABRAÇO QUERIDOS, QUE BABA MI ODÉ ILUMINE TODOS.

sábado, 19 de março de 2011

PODER DENTRO DO TERREIRO







LI  ESSA MATÉRIA EM UM BLOG, ACHEI BOA E RESOLVI POSTAR, TUDO QUE EU ACHO BOM PARA OS MEUS LEITORES EU COSTUMO POSTAR , ESPERO QUE  ELA SIRVA PARA OS MEUS LEITORES LEREM COM CARINHO E COM ISSO POSSAM  REFLETIR.....


   "Tudo o que é bom e justo emana de um único Deus, que hoje pode ter muitos nomes e cultos. Mas, seus princípios foram antes cultuados por um único povo; primordial e resistente, criado à sua imagem e semelhança.
São esses factos que nos fazem ter tanta dificuldade em entender a intolerância, o preconceito e a violência praticados em nome de Deus (?), contra os religiosos do Candomblé e da Umbanda ou de qualquer outra religião. A religiosidade Africana é a prática de uma doutrina baseada em valores de Paz, Justiça, Amor fraterno e Sacralização da vida".
Babalawo Ivanir dos Santo 

    O Poder e a Hierarquia  por Nelson Souza
Ter poder, e ser de fato detentor de algum poder, são situações distintas em uma comunidade religiosa de Candomblé, isso no meu entendimento. Veja que sempre me refiro ao meu entendimento pessoal, porque o que escrevo é fruto da minha vivência religiosa. Caberia melhor dizer que é fruto da observação dos fatos e situações ao longo dos anos, com pessoas que possuem os mais variados desejos de poder, desde aqueles que rejeitam o poder que lhe é concedido, até aqueles que o desejam muito e intensamente e não medem esforços para conseguir o objectivo.
A utilização do poder e da hierarquia numa Casa de Santo não está escrita em nenhum código explícito de conduta, nem mesmo está escrito de fato; a hierarquia e o poder existem pelo simples fato de ser assim e ponto final.
Porém, são a hierarquia e o poder bem aplicados que mantém o grupo unido em torno de um objectivo ou de alguém, um líder. Mesmo se pensarmos em um trabalho filantrópico, sem fins lucrativos, perceberemos a hierarquia por trás do projecto; há sempre um líder, um catalisador, alguém a quem se prestam contas; e numa Casa de Santo não seria diferente.
O que vejo de problemático neste modelo de hierarquia e poder concentrados em mãos pouco habilidosas para o trato com as pessoas, é o fato dessa hierarquia sacerdotal estar directamente ligada ao status que os postos de zelador, ogan, ekedi ou outro oiê dão a alguns dignatários sem preparo e sem cultura suficientes para exercer estas funções; que lidam directa e diariamente com pessoas, com emoções e sentimentos, com vidas. E, desta forma, o poder se torna um comércio e uma forma de se impor pelo medo.
Para exercer correctamente o poder é necessário, além do “direito conquistado”, ter o reconhecimento e o respeito da comunidade. É necessário ser um líder nato, e não um mero ditador de normas.
Os grandes nomes de nossa religião nem sempre tiveram educação formal completa, mas tinham carisma e sensibilidade. Portanto, a educação a que me refiro nem sempre é a formal, pois educação vem de família e, como somos uma família pergunto:
- Como estamos então educando nossos filhos?
Deve-se ter bem claro em uma comunidade quem é o líder e quem são os liderados. Falo em líder e liderados, não senhores e escravos. Frequentemente se confunde hierarquia com satisfação dos desejos do elemento mais graduado, confundindo liderança com imposição do medo. O bom líder orienta, o mau líder se aproveita da fraqueza do outro para diversos fins.
Como disse antes, em nossa religião não há um código de conduta escrito e formal; cada zelador é livre para fazer ou desfazer o que bem entender da forma como bem entender em sua Casa. Logo, isso leva à formação de entendimentos particulares das noções de respeito à pessoa, e a hierarquia passa a só ter valor quando imposta de cima para baixo e de dentro para fora do grupo detentor do poder, sendo o restante do grupo relegado à condição de mantenedores do “status Real”.
Casos típicos de confusão e de má conduta ética são os zeladores que, não tendo cultura ou educação (inclusive formal), quando empossados no comando de uma Casa não hesitam em tratar as pessoas com total desprezo, principalmente os membros da sociedade civil de maior prestígio que lhes frequentam as Casas.
A mim parece um tanto de preconceito ou revanchismo. São pensamentos retrógrados e arraigados de que, fora da Casa, o filho de santo é um médico ou um doutor, mas uma vez dentro da Casa ele fará o que for ordenado, se humilhará e será humilhado. Esse comportamento, associado à falta de ascensão social e reconhecimento profissional do zelador fora do seu próprio meio social/religioso, cria situações de constrangimento e desagrado, e acabam por excluir muitas pessoas que não compactuam com esse modelo.
Educação talvez seja um bom começo.
Não é porque não há um código de conduta que direccione o comportamento dos graduados que estes podem dispor das vidas, desejos, anseios e liberdades alheios da forma como melhor lhes convier. Somos, no mínimo, pensantes e temos sim direito ao bom e respeitoso tratamento, pois hierarquia e poder não pressupõe opressão.
Pelos motivos acima, creio que o que constantemente leva uma Casa a perder seus filhos e ser reconhecida como um local não muito confiável é a falta de capacidade do seu quadro, do seu staff, que geralmente está mais envolvido em disputas internas e silenciosas pelo poder do que centrado no que realmente importa, que é a educação e crescimento dos membros da comunidade. E, nestas disputas, não se leva em conta a sobrevivência da própria Casa como instituição de amparo aos filhos; não se leva em conta nada, somente a obtenção do poder a qualquer custo ou a manutenção dele.
Como disse anteriormente, há também os que rejeitam o poder. Estes não contribuem em nada e se colocam à margem das disputas, mas também não se posicionam contrários a estas. São como já li em um grande livro “Ogãns de bênção”, referindo-se às pessoas sem compromisso com a Casa. Não fala especificamente sobre os Ogãns, não há nenhum preconceito, refere-se à generalidade dos cargos e do status que eles proporcionam na comunidade, sem no entanto se envolverem profundamente com seus assuntos.
Claro exemplo de dominação pelo medo se dá em uma consulta de búzios ou a uma Entidade, onde o objectivo principal é a busca de soluções e respostas para um determinado assunto, e essa consulta acaba por impor ao consulente uma série de outros assuntos que não são pertinentes, mas que dão status de grande adivinho ao zelador. Refiro-me aos casos como os declarados no próprio blog sobre informações desencontradas dadas por diferentes zeladores a respeito de um mesmo assunto.
Sei que o jogo não é um tomógrafo de última geração, uma máquina programada para dar sempre os mesmos resultados com margens mínimas de erros, mas falo de percepções e de técnicas diferentes em que até o dia em que se consulta o jogo pode ter influência sobre a leitura. Uma coisa não muda em tudo isso, o interesse em ajudar ou ser ajudado do adivinho. O assunto é esse, eu em particular não jogo nem dou consulta, portanto em princípio não deveria falar dos que o fazem, mas, com liberdade para opinar e responsável em conjunto com a Manuela por divulgar a religião neste espaço democrático, não posso omitir este assunto.
Esse é somente um item de um grande arsenal de formas usadas para impor o medo. No jogo/consulta se “vê” que o consulente “precisa urgentemente” fazer ou deixar de fazer, ter ou deixar de ter diversas coisas e é nesse ponto que começamos a diferir o poder de fato do poder imposto. Afinal, amedrontar uma pessoa se utilizando de um jogo ou de uma Entidade para obter vantagens é coisa fácil, o difícil é encontrar pessoas que queiram orientar e cuidar, dar carinho e uma palavra de conforto. Como disse, é difícil encontrá-los, mas graças aos Orixás pessoas sérias também ocorrem em grande número, pois afinal é para isso que são graduados e ocupam seus cargos.
O objectivo deste texto é dizer que o poder deve ser utilizado para colaborar, para influenciar positivamente, para fazer crescer a comunidade e os filhos, portanto devemos, antes de nos entregar de corpo e alma, avaliar cuidadosamente que tipo de poder queremos exercer e a que tipo de poder estaremos sujeitos.
A busca constante da felicidade conduz à felicidade.
Não sei de quem é a frase, mas é bem interessante.
Tomege do Ogum.

Mestre

O velho mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse."Qual é o gosto?", perguntou o Mestre.Ruim", disse o aprendiz.O mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:"Beba um pouco dessa água".Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o mestre perguntou:"Qual é o gosto?""Bom!" disse o rapaz."Você sente gosto do sal?", perguntou o mestre."Não", disse o jovem.O mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:"A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende do lugar onde a colocamos. Então quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas. Deixe de ser um copo. Torne-se um lago".


BOM FINAL DE SEMANA A TODOS VCS, ASÉ Ô

sexta-feira, 18 de março de 2011

....FALANDO SOBRE O IPÀDÊ........



  O IPADÉ (TAMBÉM CHAMADO POPULARMENTE, EMBORA ERRADAMENTE, DE PADÊ) DE EXÚ É UM RITUAL EXECUTADO ANTES DE QUALQUER CERIMÓNIA INTERNA OU PÚBLICA DO CANDOMBLÉ, EXÚ É SEMPRE O PRIMEIRO A SER HOMENAGEADO. DE MANHÃ, CONSUMA-SE O SACRIFÍCIO; OS PREPARATIVOS CULINÁRIOS E A OFERENDA ÀS DIVINDADES OCUPAM O RESTANTE DO DIA; A CERIMÓNIA PÚBLICA PROPRIAMENTE DITA COMEÇA AO FIM DA TARDE, QUANDO O SOL SE PÕE E PROLONGA-SE POR MUITO TEMPO, NOITE ADENTRO. QUALQUER CERIMÓNIA TEM INÍCIO, OBRIGATORIAMENTE, COM O PADÊ DE EXÚ. COSTUMA-SE DIZER QUE ESSA CERIMÓNIA É PARA DESPACHAR EXÚ, MAS ISSO NÃO É CORRECTO, POIS COM ESTA CERIMÓNIA APENAS COLOCAMOS EXÚ COMO GUARDIÃO E MENSAGEIRO, PARA AVISAR OS ORIXÁS DE QUE ESTAREMOS PRECISANDO DAS SUAS PRESENÇAS NO AIYÉ (TERRA). EXÚ É, NA VERDADE, O MERCÚRIO AFRICANO, O INTERMEDIÁRIO NECESSÁRIO ENTRE O HOMEM E O SOBRENATURAL, O INTÉRPRETE QUE CONHECE AO MESMO TEMPO A LÍNGUA DOS MORTAIS E A DOS ORIXÁS. É POIS ELE O ENCARREGADO – E O IPADÉ NÃO TEM OUTRA FINALIDADE – DE LEVAR AOS ORIXÁS O CHAMAMENTO DOS SEUS FILHOS. O IPADÉ É CELEBRADO POR DUAS DAS FILHAS-DE-SANTO MAIS ANTIGAS DA CASA, A DAGÃ E A SIDAGÃ, AO SOM DE CÂNTICOS EM LÍNGUA IORUBÁ, CANTADOS SOB A DIRECÇÃO DA IYÀ TÊBÊXÊ E SOB O CONTROLE DO BABALORIXÁ OU YALORIXÁ, DIANTE DE UMA QUARTINHA COM ÁGUA E UM PRATO DE BARRO CONTENDO O ALIMENTO DE EXÚ, E UM OUTRO RECIPIENTE COM O ALIMENTO FAVORITO DOS ANCESTRAIS. EMBORA O IPADÉ SE DIRIJA ANTES DE TUDO A EXÚ, COMPORTA TAMBÉM OBRIGATORIAMENTE UMA CANTIGA AOS MORTOS (ESSÁ) OU PARA OS ANTEPASSADOS DO CANDOMBLÉ, ALGUNS DE ENTRE ELES SÃO MESMO DESIGNADOS PELOS SEUS TÍTULOS SACERDOTAIS. A QUARTINHA, O RECIPIENTE E O PRATO SERÃO LEVADOS PARA FORA DO BARRACÃO ONDE SE DESENROLARÃO AS RESTANTES CERIMÓNIAS. A FESTA PROPRIAMENTE DITA PODE ENTÃO COMEÇAR. OBS.: NÃO CONFUNDIR PADÊ (QUE SIGNIFICA A COMIDA DE EXÚ) COM IPADÉ (QUE SIGNIFICA ENCONTRO) QUE É A CERIMÓNIA PROPRIAMENTE DITA.

.....LENDAS DE IKÚ......A MORTE

LENDAS DE IKÚ  -  MORTE

 
Tudo o que nasce um dia morre; qualquer coisa, animal ou indivíduo, mais dias ou menos dias morrerá.
Se pensarmos bem, veremos que a vida e a morte  são faces da mesma moeda:  a existência.
Em nossa cultura ocidental em geral, ensinaram-nos a temer a morte, como se ela fosse a pior coisa que poderia nos acontecer. E, ainda desde criança, criaram em nossas mentes algumas imagens para esteriotipar a morte como a figura de alguém vestido com uma túnica longa, usando um capuz cobrindo não somente a cabeça, mas, escondendo a face que nunca aparece, por estar sempre na penumbra formada por esse capuz; ou então, uma outra figura também  de túnica longa, com o rosto de uma caveira, também com a cabeça encoberta por um capuz e segurando em suas mãos um grande cajado terminado em feitio de foice; isto, para enfatizar a função do “ceifador de vidas”, de quem ninguém jamais escapará.


A história Yorùbá como sabemos, é pródiga em pequenas lendas; para tudo ou quase tudo há sempre uma historinha explicando o porque daquilo. Como não poderia deixar de ser, Ikú (a Morte), também tem suas histórias interessantes. E uma delas conta que:
Ikú, era um jovem guerreiro, forte e muito bonito. Sua beleza era tamanha que impressionava tanto às mulheres quanto aos homens.
As mulheres encantavam-se tanto com sua bela figura que onde quer que o vissem, acompanhavam-no só para poderem continuar admirando aquela criatura tão encantadora. Não podiam desviar os olhos dele.
Os homens, embora tentassem disfarçar ou não quererem admitir que estavam encantados com a beleza de Ikú, também acabavam seguindo-o. Alguns do tipo machão, diziam que seguiam-no somente por curiosidade de saber quem era e onde morava.
Só que Ikú morava no Igbó-Ikú (Floresta dos Mortos ou Floresta da Morte), de onde quem quer que fosse até lá e entrasse, jamais sairia; nunca mais seria visto, pois  fora para o Igbó-Ikú.
E todo o encanto e beleza de Ikú, tinham justamente o objetivo de chamar a atenção das pessoas e atraí-las, e que inadvertidamente seguiam-no e adentravam no Igbó-Ikú, o reino dos mortos, onde, evidentemente, o rei era o próprio Ikú e de onde não é permitido a ninguém retornar, uma vez ali adentrado.
Em outra história, Ikú está ligada ao mito da criação dos seres humanos. Conta a lenda que Olódùmarè, ao decidir criar o ser humano, designou essa incumbência  Òòsààlà, que teve  a necessidade de obter o material adequado para aquele propósito. Pensou e achou que o melhor material  para moldar os seres humanos seria  amòn (o barro) formado pela mistura de terra e água. Então, Òòsààlà que fora incumbido daquela tarefa por Olódùmarè, ordenou a  Èsù o mensageiro, que fosse buscar um pouco de lama para que Ele pudesse executar sua tarefa.
Como era corrente e sabido por todos, não havia nada que Èsù não pudesse realizar, e  a tarefa parecia super fácil para ele. Mas, ao chegar ao local, quando Èsù meteu a mão na lama arrancando-a, Ayé (a Terra) chorou porque estavam arrancando parte dela e ela sentia muita dor com aquilo. Embora Èsù tivesse fama de mau e implacável, ficou mortificado de pena de Ayé e deixou a lama para lá. Regressou a Òòsààlà e relatou o acontecido.
Òòsààlà então chamou Ògún, este sim, guerreiro intrépido e destemido que em batalhas matava o inimigo até mesmo brincando, resolveria aquele pequeno problema. E lá se foi Ògún. Em lá chegando, quando ele retirou a lama para colocar em sua làbà (bolsa capanga), Ayé caiu em prantos lamentando-se. Ògún também ficou penalizado ora, Ayé não lhe fizera nada de mal e ele não estava zangado, e assim, não tinha ímpeto suficiente para feri-la. E também voltou a Òòsààlà para explicar o seu fracasso em cumprir sua missão.
Assim, um a um dos Òrìsà que foram incumbidos por Òòsààlà para aquela  mesma missão, voltava com a mesma desculpa: ninguém foi capaz de tirar a lama de Ayé, cada qual com suas qualidades que o recomendava  com a certeza do cumprimento da tarefa, mas, tudo em vão.
Foi aí  que Òòsààlà  chamou Ikú, deu-lhe a àpò (bolsa) e mandou-o para executar a tarefa que todos os demais Ìmolè tinham fracassado em cumprir. Então, Ikú ao chegar na terra começou a retirar a lama de Ayé, e ela chorou, mas, Ikú não se importou com  o pranto dela  e  pegou toda a lama de que precisava e retornou a Òòsààlà com sua missão cumprida.


Então, após moldar os seres humanos, Òòsààlà plantou uma árvore para cada um, para que ela lhe suprisse o oxigênio e desse continuidade à respiração, iniciada pelo sopro divino de Olódùmarè  pois,  Olódùmarè oCriador Supremo, insuflou o seu hálito (èémí) para dar vida e mobilidade aos seres humanos.  E disse a Ikú que, como fora ele quem retirara o material necessário para moldar os seres humanos, em qualquer época que se fizesse necessário, ele estaria também incumbido de levá-lo de volta para recolocar em seu lugar de origem, após a utilização daquele  material.  Por isso é, que quando chega a época da devolução daquela porção do material primordial, Ikú é quem vem buscar a pessoa para recolocá-la em seu lugar  original.
Visto assim, do ponto de vista das lendas Yorùbá, Ikú (a Morte) não é aquela coisa tenebrosa que nos incutiram desde a mais tenra idade. Ikú, para os Yorùbá tradicionais é ao mesmo tempo, o fornecedor primordial e o restaurador da matéria retirada e fornecida por Ele próprio, sendo Ele assim o princípio e fim,  o princípio e o fim e, e o princípio e o fim..., e assim sucessivamente, num eterno círculo, onde não há início nem final, que está sempre recomeçando.

TRIUNFAR !!!

Descidi triunfar...

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...Decidi não esperar as oportunidades e, sim, eu mesmo buscá-las.Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de superá-las.Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora, me importa simplesmente saber melhor o que fazer.Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima e, sim, deixar de subir.Aprendi que o melhor triunfo que posso ter é ter o direito de chamar a alguém de "amigo".Descobri que o amor é mais que um simples estado e enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida".Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser a minha própria tênue luz deste presente.Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais.Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade.E desde aquele dia já não durmo para descansar...

Agora simplesmente durmo para sonhar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

......A FOGUEIRA DE SANGÔ.........[XANGÔ]








Ritual da Fogueira de  SANGÔ

O ritual mais conhecido por toda comunidade dos Candomblé do brasil. em homenagem a este Orisá e sua fogueira, a qual queima durante toda festividade, e para quando o grande rei se fizer presente ali se forma um tapete vermelho com brasas vivas, diz nos cultos a este Orisá quem ainda não viu Sango caminhar sobre brasas vivas não conhece a força deste Orisá.

Este bem como o ritual do Ajere, nome dado ao pote que este Orisá carrega na cabeça com azeite de dende em chamas, está tambem seguida de um ritual chamado de Akará, quando este Orisá em companhia de Oiyá, engole pequenas tochas de fogo.
O momento principal é a "Roda de Sango" - que por falar nisso é a único Orisá que se faz roda dentro do culto ... Mais sem querer ofender niguem, Já existe roda de todos os Orisás.

Neste ritual são homenagiado todos os Orisás de sua corte, ou seja toda a corte de Oiyó, para a grande consagração do grande Rei Sango: Baayani, Iyá Masé, Dada, Ajaka, Ayrá Ntylé. 

As ofertas preferidas de Sango vêm nas cantigas a este Orisá: o Cagado (Ajapá) e o Carneiro (agbo Akutan). O Ecoar do Sere faz com que nós lembramos de uma grande tempestade, e todos são muito gratos, pois ali esta seu rei junto de seus súditos.
O grito de guerra do grande rei de Oyó vem como um trovão na tempestade de séré e comunica a todos da comunidade que só este rei é poderoso, é quem faz a sua própria coroa, um rei que tem coroa.
para este Orisá o azeite de dende é como água, e e justamente o "Epo-pupa, que apazigua Sango, então este elemento nunca pode faltar em todas as oferendas ao rei Sango. E tudo relativo a este Orisá deve ser oferecido quente, ele não aceita nada frio, (por isso Sango não fica onde tem pessoas mortas, por estarem totalmentes frias, e, erroniamente muitas pessoas dizem que ele tem medo da morte).
Bem como o sangue em seu Igbá deve ser direto ou seja quente, pois trata-se de vida. A única coisa em sua vida que Sango aceite que tem sangue frio é o "Ajapá", animal este de sangue frio, mais aceita este animal pelo seu poder de longevidade.
Este Orisá ainda bem peculiar so aceite o Orogbó e nunca Obi, e em todas as oferendas a este orisá deve conter seu fruto predileto "Orogbó". Seu feitixe principal é o machado duplo (Osé) que alem de uma de sua armas de guerra, é é o único instrumento que simboliza a verdade a justiça, pois suas duplas laminas cortam para os dois lados, não fazendo destinção.
Em seu Labá Sango guarda as pedras poderosas de raio, e seus poderosos chocalhos de cobre ou ainda em sua cabaça de cabo bem alongado, e com grande quantidade "Edu-Ara e Seré". Em Africa costumam dizer os antigos que Sango se iniciado se Edu-Ara não tem Sango por perto.E perto do assentamento de Sango nunca podera faltar a presença de "Iyá-Mase", Oiyá, Osún e Obá, seu Igbá é feito dentro de gamela. O numero 12 esta relacionado a Sango, pois 12 são seus ministros, e tambem 12 são seus caminhos.
alguns caminhos de Sango esta relacionado a Osáálá , e em alguns axés, são considerados também como Sangô[xangô]como: Ayrá Igboná, Ayra e Ayrá Ntyle, pois são eles considerados os mais velhos, relacionamento direto com o poder da criação, ou seja Osáálá, é por este único motivo e principal ultilizam-se da cor branca e usa sigi azul que substitui o da cor vermelha em sua contas.
Diz a cultura Yorubá que quem tem este Orisá a seu lado nada teme, pois ele é o rei que tira da boca e coloca na boca dos seus.

Deixo aqui um espaço para os participante do grupo postarem seus comentários e ajudar enriquecer o conhecimento dos nos irmãos que estão procurando aprender um pouco!!! 


Asé Asé Asé
 

AFONJÁ.....O DEUS DO SEU POVO!!!




O Orixá[orisá] são para os africanos sua maior significação totêmica. Oyó-capital da nação yorubá-nome da primeira tribo de Oduduwá-fundada por Oraniyan, filho de Okambi, neto de Odudwá,foi a primeira cidade fundada após ILÊ IFÉ,  que foi fundada pelo próprio Odudwá, passando a ser a capital política da nação.Dahomé, ex nome do país que hoje é chamado de Benin, antiga terra dos fulanis, origem da cultura gege na África ocidental.  Literalmente Dahomé significa :Coroação das cobras. As culturas chamadas ewe,fon, mahi,dagomé,mina fanti e etc são originárias de Dahomé,dono de um dos mais poderosos exército africano e o maior conhecimento de magia.O termo ORIKI determina a fundação ou origem de um africano[yorubano], sendo de grande importância para se traçar a árvore genealógica. ORIKI não é um nome e sim a própria origem familiar ou totem. O real significado do termo ORIKI esta perdido no tempo,mas pode-se atribuí-lo ao principio da implantação da cultura yorubana ou nok, em 600 A.C . A maioria de um ORIKI esta ligado a algum mito,divindade ou objeto, que significa ou significou em algum tempo algo ligado a esta divindade,que por sua vez estava ligada a esta ou aquela família.Dentro dos ancestrais de família das mais altas hierarquia da cultura gege nagô, que foram por obra do destino trazidas para o Brasil,devida as corrupções de certas tribos e reinos,provocada pelo desmantelamento das culturas por meios de escabroso comércio de cativos,oriundos de guerras intertribais elaboradas pelos portugueses, sob a promessa de mútua divisão de impérios[europeus-africanos] entre as duas raças, com o objetivo de reestabelecer vários títulos,cargos,nomes,sobrenome e totens. Familiares de membros de diversas castas de grupo étnico , africanos trazidos para o Brasil, os estudiosos e pesquisadores da cultura africana resgataram aos descendentes de africanos, os nomes e palavras para auxilia-los nas pesquisas da suas raízes familiares, os nomes[LARIS]pertencem as famílias dos sacerdotes e ministros do vários Reis do grupo gege,yorubá,nagô  etc..... Yorubano destacamos  AFONJÁ LAIYA LOKÔ  DE  ILORIN, que expandiu seu méritos e atos heroícos para o Brasil e que é cultuado numa das mais respeitadas casa de candomblé da Bahia:ILÊ AXÊ OPÔ AFONJÁ!!!   Afonjá morreu na batalha de ILORIN,atacado pelos fulanis,que após dez anos conseguiran sua vitória.Pelo fato de Afonjá ter morrido a permanecido de pé após levar 400 flechadas,criou-se o mito da sua imortalidade.Tal fato repetiu-se 200 anos depois, na morte da GANGAZUMA, no quilombo do Macaco,no Brasil. Os habitantes de ILORIN,prisioneiro dos fulanis,foram levados em cativeiros para a capital invasora, no entanto uma velha profecia previa que: Quando os escravos tornassem mestres, uma revolta eclodiria.Assim os yorubás, uniram-se em torno do fato e pedindo a Afonjá proteção, atacaram os fulanis,expulsando-os do território ocupado, na batalha de Pamó, mas a imagem de Afonjá crivado de flechas ficou na memória de seu povo. E isto fez surgir um culto que o tornou o orixá da justiça.simbolo de Xangô e seus descendentes foram trazidos para o Brasil, trazendo com eles seu culto e sua história.... A HISTÓRIA DE AFONJÁ , O DEUS DO SEU POVO!!!

E OS CABOCLOS ???






Artigos, teses e publicações



A dança dos caboclos : uma síntese do Brasil segundo os terreiros afro-brasileiros



Aprendemos na escola que a população brasileira foi formada pelos europeus colonizadores, que se mesclaram com os indígenas que aqui já viviam antes da chegada dos portugueses e com os africanos trazidos pelo escravismo. Somos ao mesmo tempo brancos, índios e negros. São essas as nossas raízes, às quais mais tarde vieram se juntar povos do Oriente Próximo, do Extremo Oriente e de outras partes do mundo. Somos um povo mestiço, com uma cultura mestiça, mas o assumir dessa identidade só veio a ganhar alguma legitimidade por volta dos anos 20 do século passado, época, inclusive, em que se formaram duas importantes marcas dessa ascendência: o samba, no universo da música popular brasileira, e a umbanda, síntese da diversidade religiosa afro-brasileira.






Negros e índios: impossível pensar o Brasil sem essas duas origens. Suas marcas estão na constituição física do brasileiro e também na sua cultura, sobressaindo-se a música e a religião, mas incluindo também dimensões como língua, culinária, estética, valores sociais e estruturas mentais. Mas é nas religiões afro-brasileiras que estão registradas a presença decisiva e a diversidade da contribuição negra. 






Durante quase quatro séculos, negros africanos foram caçados e levados ao Brasil para trabalhar como escravos. Separados para sempre de suas famílias, de seu povo, do seu solo (de fato apenas alguns poucos conseguiram retornar depois da abolição da escravidão), os africanos foram aos poucos se adaptando a uma nova língua, novos costumes, novo país. Foram se misturando com os brancos europeus colonizadores e com os índios da terra, formando, como disse, a população brasileira e sua cultura, como também aconteceu em outros países da América. Muitos foram os povos africanos representados na formação brasileira, os quais podem ser classificados em dois grandes grupos lingüísticos: os sudaneses e os bantos (Prandi, 2000).






São chamados sudaneses os povos situados nas regiões que hoje vão da Etiópia ao Chade e do sul do Egito a Uganda, mais o norte da Tanzânia. Seu subgrupo denominado sudanês central é formado por diversas etnias que abasteceram de escravos o Brasil, sobretudo os povos localizados na região do Golfo da Guiné, povos que no Brasil conhecemos pelos nomes genéricos de nagôs ou iorubás (mas que compreendem vários grupos de língua e cultura iorubá de diferentes cidades e regiões), os fons ou jejes (que congregam os daomenaos e os mahis, entre outros), os haussás, famosos, mesmo na Bahia, por sua civilização islamizada, e outros grupos que tiveram importância menor ou nenhuma na formação de nossa cultura, como os grúncis, tapas, mandingos, fantis, achantis e outros não significativos para nossa história. Para enfatizar a especificidade de cada uma dessas culturas ou subculturas, talvez seja suficiente lembrar que duas das cidades iorubás ocupam papel especial na memória da cultura religiosa que se reproduziu no Brasil: Oió, a cidade de Xangô, e Queto, a cidade de Oxóssi, além de Abeocutá, centro de culto a Iemanjá, e Ilexá, a capital da sub-etnia ijexá, de onde são provenientes os cultos a Oxum e Logum Edé. O candomblé jeje-nagô da Bahia, o batuque do Rio Grande do Sul, o tambor-de-mina do Maranhão e o xangô de Pernambuco são heranças brasileiras desses povos.






Os bantos são povos da África Meridional que falam entre setecentas e duas mil línguas e dialetos aparentados, estendendo-se para o sul, logo abaixo dos limites sudaneses, até o cabo da Boa Esperança, compreendendo as terras que vão do Atlântico ao Índico. Os bantos trazidos para o Brasil eram falantes de várias dessas línguas, sobressaindo-se, principalmente, os de língua quicongo, falada no Congo, em Cabinda e em Angola; o quimbundo, falado em Angola acima do rio Cuanza e ao redor de Luanda; e o umbundo, falada em Angola, abaixo do rio Cuanza e na região de Benguela. A importância dos grupos falantes dessas três línguas na formação do Brasil pode ser aferida pela quantidade de termos que a língua portuguesa aqui falada deles recebeu (Castro, 2001), além de outras contribuições nada desprezíveis, como a própria música popular brasileira. Na esfera das religiões afro-brasileiras, a participação dos bantos foi fundamental, pois é da religiosidade desses povos ou sob sua influência decisiva que se formou no Brasil o candomblé de caboclo baiano e outras variantes regionais de culto ao antepassado indígena, como o catimbó de Pernambuco e da Paraíba, que mais tarde vieram a se reunir na formação da umbanda e que também constituíram uma espécie de contrapartida brasileira ao panteão das divindades africanas cultuadas nos candomblé, no xangô, no batuque e no tambor-de-mina.






II




As diferentes etnias africanas chegaram ao Brasil em distintos momentos, predominando os bantos até o século XVIII e depois os sudaneses, sempre ao sabor da demanda por mão-de-obra escrava que variava de região para região, de acordo com os diferentes ciclos econômicos de nossa história, e do que se passava na África em termos do domínio colonial europeu e das próprias guerras inter-tribais exploradas, evidentemente, pelas potências coloniais envolvidas no tráfico de escravos. Nas últimas décadas do regime escravista, os sudaneses iorubás eram preponderantes na população negra de Salvador, a ponto de sua língua funcionar como uma espécie de língua geral para todos os africanos ali residentes, inclusive bantos (Rodrigues, 1976). Nesse período, a população negra, formada de escravos, negros libertos e seus descendentes, conheceu melhores possibilidades de integração entre si, com maior liberdade de movimento e maior capacidade de organização. O cativo já não estava preso ao domicílio do senhor, trabalhava para clientes como escravo de ganho, e não morava mais nas senzalas isoladas nas grandes plantações do interior, mas se agregava em residências coletivas concentradas em bairros urbanos próximos de seu mercado de trabalho. Foi quando se criou no Brasil, num momento em que tradições e línguas estavam vivas em razão de chegada recente, o que talvez seja a reconstituição cultural mais bem acabada do negro no Brasil, capaz de preservar-se até os dias de hoje: a religião afro-brasileira. 






Assim, em diversas cidades brasileiras da segunda metade do século XIX, surgiram grupos organizados que recriavam no Brasil cultos religiosos que reproduziam não somente a religião africana, mas também outros aspectos da sua cultura na África. Nascia a religião afro-brasileira chamada candomblé, primeiro na Bahia e depois pelo país afora, tendo também recebido, como já disse, nomes locais, como xangô em Pernambuco, tambor-de-mina no Maranhão, batuque no Rio Grande do Sul. Os principais criadores dessas religiões foram negros das nações iorubás ou nagôs, especialmente os provenientes de Oió, Lagos, Queto, Ijexá, Abeocutá e Iquiti, e os das nações fons ou jejes, sobretudo os mahis e os daomeanos. Floresceram na Bahia, em Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Sul e, secundariamente, no Rio de Janeiro.






III






Simultaneamente, por iniciativa de negros bantos, surgiu na Bahia uma religião equivalente às dos jejes e nagôs, conhecida pelos nomes de candomblé angola e candomblé congo. A modalidade banta lembra muito mais uma transposição para as línguas e ritmos bantos das religiões sudanesas do que propriamente cultos bantos da África Meridional, tanto em relação ao panteão de divindades e seus mitos como no que respeita às cerimônias e aos procedimentos iniciáticos, mas tem características que fizeram dela uma contribuição essencial na formação do quadro religioso afro-brasileiro: o culto ao caboclo. Ora, os bantos tinham chegado muito tempo antes dos iorubás e dos fons, estavam bastante adaptados aos costumes predominantes no país, falavam a língua portuguesa e tinham assimilado o catolicismo. Mas, num país de escravos, ainda eram considerados africanos, como todos os negros e mestiços, e seu lugar na sociedade, por isso, era à margem; sua identidade ainda era africana. Em outras palavras, eram contraditoriamente brasileiros e africanos ao mesmo tempo. Como africanos meridionais que eram, suas remanescentes tradições os orientavam no sentido de cultuar os antepassados, antepassados que na África banta estavam fixados na terra, de modo que cada aldeia tinha seus próprios ancestrais como parte integrante daquele território geográfico e que usualmente não se deslocavam para outros lugares. Como brasileiros que também já eram, tinham consciência de uma ancestralidade genuinamente brasileira, o índio. Da necessidade de cultuar o ancestral e do sentimento de que havia uma ancestralidade territorial própria do novo solo que habitavam, os bantos e seus descendentes criaram o candomblé de caboclo, que celebrava espíritos dos índios ancestrais (Santos, 1995; Prandi, Vallado e Souza, 2001).






Apesar de os bantos estarem no Brasil havia muito mais tempo, indícios históricos nos levam a crer que é tardia a formação de um candomblé banto de culto a divindades africanas, o qual teria surgido apenas quando os candomblés de orixá e de voduns já estavam organizados ou se organizando. Embora todos os negros e mestiços fossem considerados como iguais, na medida em que ocupavam na sociedade branca posição oficialmente subalterna e marginalizada, as identidades étnicas estavam preservadas nas irmandades religiosas católicas, que reuniam em igrejas e associações específicas os diferentes grupos africanos étnico-linguístico. Pois quando nagôs e jejes reunidos nas irmandades católicas (Silveira, 2000) refizeram no Brasil suas religiões africanas de origem, os bantos os acompanham. Pelas razões que já apontei, sua religião de inquices (divindades ancestrais bantas) teve uma reconstituição muito mais problemática, obrigando-se a empréstimos sudaneses nos planos do panteão, dos ritos e dos mitos.






No campo religioso foi, portanto, dupla a contribuição banta originada na Bahia: o candomblé de caboclo e o candomblé de inquices denominado angola e congo — duas modalidades que se casariam num único complexo afro-índio-brasileiro, povoando, a partir da década de 1960, praticamente o Brasil todo de terreiros angola-congo-caboclo.






Não foi, entretanto, só na Bahia que surgiram os cultos das entidades caboclas. Onde quer que tenham se formados grupos religiosos organizados em torno de divindades africanas, podiam também ser reconhecidos agrupamentos locais que buscavam refúgio na adoração de espíritos de humanos. Esses cultos de espíritos ganharam, evidentemente, feições locais dependentes de tradições míticas ali enraizadas, podendo estas serem mais acentuadamente indígenas, de caráter mais marcado pelo universo cultural da escravidão, ou mesmo mais próximas da mitologia ibérica transplantada para o Brasil colonial. Em cada lugar surgiram cultos a espíritos de índios, de negros e de brancos. Essa tendência foi muito reforçada pela chegada ao Brasil, no finalzinho do século XIX, de uma religião européia de imediata e larga aceitação no Brasil: o Espiritismo kardecista.






Em cada uma dessas denominações religiosas caboclas, a concepção dos espíritos cultuados também variou bastante. Na Bahia, por exemplo, o caboclo é o índio que viveu num tempo mítico anterior à chegada do homem branco, mas um índio que conheceu a religião católica e se afeiçoou a Jesus, a Maria e a outros santos; um índio que viveu e morreu neste país — este é o personagem principal do candomblé de caboclo, que, com o tempo agregou outros tipos sociais, sobretudo os mestiços boiadeiros do sertão. A proximidade com religiões indígenas é atestada pela presença ritual do tabaco, tabaco que, antes da chegada das multinacionais do fumo, foi uma das grandes riquezas da Bahia, antigo centro nacional da indústria fumageira e importante produtor de charutos. O charuto é até hoje um símbolo forte dos espíritos caboclos.






Na Paraíba e em Pernambuco, os espíritos, que ali se chamam mestres podiam ser espíritos de índios, de brasileiros mestiços ou brancos, entre os quais se destacavam antigos líderes da própria religião já falecidos, os mestres, designação esta que acabou prevalecendo para designar todo e qualquer espírito desencarnado. Essas manifestações também herdaram das religiões indígenas o uso do tabaco, ali fumado com o cachimbo, usado nos ritos curativos, além da ingestão cerimonial de uma beberagem mágica preparada com a planta da jurema. Catimbó e jurema, os nomes pelos quais essa modalidade religiosa é conhecida resultam desses dois elementos. Catimbó é provavelmente uma deturpação da palavra cachimbo, e jurema, o nome da planta e da sua beberagem sagrada (Bastide, 2001; Brandão e Rios, 2001).






Mais ao norte, no Maranhão e no Pará, os espíritos cultuados são personagens lendários que um dia teriam vivido na Terra mas que, por alguma razão, não conheceram a morte, tendo passado da vida terrena ao plano espiritual por meio de algum encantamento: são os encantados (Ferretti, 1993 e 2001). Essa tradição de encantamento estava e está presente na cultura ocidental (lembremo-nos nas histórias de fadas, com tantos príncipes e princesas encantados), bem como na mitologia indígena. Os encantados são de muitas origens: índios, africanos, mestiços, portugueses, turcos, ciganos etc. Lendas portuguesas de encantaria, como a história do rei português dom Sebastião, que desapareceu com sua caravela na batalha de Alcacequibir em 1578, em luta contra os mouros, e que os portugueses acreditavam que um dia voltaria, estão vivas nessa religião. A luta dos cristãos contra os mouros, tão cara ao imaginário português, se transformou em mitologia religiosa, mas os turcos da encantaria são agora aliados, não inimigos. Elementos da encantaria amazônica, como as histórias de botos que viram gente e vice-versa; lendas de pássaros fantásticos e peixes miraculosos, tudo isso foi compondo, ao longo do tempo, a religião que se convencionou chamar encantaria ou encantaria do tambor-de-mina, no Maranhão (Prandi e Souza, 2001), e sua vertente paraense (Leacock e Leacock, 1975).






Todas essas formas de cultos nascidas no Brasil, que podemos genericamente chamar de religião dos encantados ou religião cabocla, são religiões de transe. As entidades cultuadas se manifestam em transe no corpo de devotos devidamente preparados para isso, tal como ocorre nos cultos dos orixás, voduns e inquices. Como também se dá no conjunto todo das religiões afro-brasileiras, todas desenvolvem ampla atividade mágico-curativa e de aconselhamento oracular, todas elas são dançantes e sua música é acompanhada de tambores e ritmos de origem africana, embora em modalidades como o catimbó a dança tenha sido adotada mais tarde, nesta provavelmente por influência do xangô. Diferentemente das religiões de orixás, voduns e inquices, as religiões caboclas são, contudo, cantadas em português, o que confirma seu caráter brasileiro e mestiço. Em nenhum momento fica escondida a mistura básica que compõe cada uma delas: América, África e Europa, índio, negro e branco, são estas as fontes indispensáveis da sua constituição. E todas elas são sincréticas com o catolicismo, resultado de um momento histórico, o de sua formação no século XIX, em que ninguém podia ser brasileiro se não fosse igualmente católico. O catolicismo era a religião hegemônica, oficial e a única tolerada em solo brasileiro.






Essas três manifestações afro-índio-brasileiras de culto dos ancestrais da terra — candomblé de caboclo, catimbó-jurema e encantaria de mina — não foram evidentemente as únicas. Muitas outras formas locais puderam ser registradas nas diferentes partes do Brasil, tendo sido algumas delas absorvidas por alguma das formas que lograram melhor se expandir e se perpetuar, ou pela umbanda que se formou mais tarde (Senna, 2001). Outras tantas, embora se mantendo com certa autonomia, ajudaram a compor cosmovisões e panteões de religiões irmãs, como no caso da contribuição da pajelança amazônica (Maués e Macambira, 2001) à encantaria de mina. Por todo lado, diferentes expressões locais da religiosidade cabocla se encontraram, se influenciaram, se fundiram e se espalharam.






Não se pode deixar de notar que essas práticas religiosas acabaram por se justapor aos cultos das divindades africanas, estabelecendo com eles relações de simbiose. O candomblé de caboclo acabou se tornando tributário de candomblé angola e congo; a jurema passou a compor com o xangô, sobretudo o de nação xambá; e a encantaria associou-se ao tambor-de-mina nagô. Os grupos religiosos de culto a orixás e voduns mais comprometidos com raízes sudanesas se mantiveram, pelo menos até um determinado momento e em algumas casas de tradição mais ortodoxa, alheios ao culto caboclo. Era mesmo de se esperar que assim fosse, pois o culto caboclo é, desde sua origem, de natureza mestiça.





IV




Por muito tempo tanto os candomblés de divindades africanas e os cultos que giravam em torno de espíritos brasileiros e europeus (isto é, o candomblé de caboclo, a encantaria de mina, o catimbó ou jurema dos mestres) permaneceram mais ou menos confinados a seus locais de origem. Mas logo no início de sua constituição, com o fim da escravidão, muitos negros haviam migrado da Bahia para o Rio de Janeiro, levando consigo suas religiões de orixás, voduns e inquices e também a de caboclos, de modo que na então capital do país reproduziu-se um vigoroso candomblé de origem baiana, que se misturou com formas de religiosidade negra locais, todas eivadas de sincretismos católicos, e com o espiritismo kardecista, originando-se a chamada macumba carioca e pouco mais tarde, nos anos 20 e 30 do século passado, a umbanda. A umbanda e o samba, símbolo maior da nacionalidade mestiça, constituíram-se mais ou menos na mesma época, ambos frutos do mesmo processo, que caracterizou aqueles anos, de valorização da mestiçagem e de construção de uma identidade mestiça para o Brasil que então se pretendia projetar como país moderno, grande e homogêneo, e por isso mesmo mestiço, o "Brasil Mestiço, onde a música samba ocupava lugar de destaque como elemento definidor da nacionalidade", nas palavras de Hermano Vianna (1995: 20).






A migração para o Rio de Janeiro, que a partir dos anos 50 e 60 seria deslocada para São Paulo, com a nova industrialização, não se resumiu, evidentemente, aos baianos, embora inicialmente eles tenham sido em maior número. Chegava ao Rio gente de todo o Nordeste e também do Norte, cada um trazendo seus costumes, suas crenças, deuses e espíritos. Cultos de mestres e encantados acabaram desaguando fartamente nos terreiros dos caboclos e dos pretos-velhos da chamada macumba carioca, que ia gestando a umbanda numa grande síntese, ali na capital federal da república recém-nascida para onde convergiam as mais diversas manifestações culturais de âmbito regional, e onde essas diferenças regionais e locais foram se apagando para se formar um todo único capaz de representar simbolicamente o Brasil como um todo, como uma única nação, envolvendo todos os seus matizes raciais e as diversas fontes culturais que animavam a construção da brasilidade. 






Mais tarde, no final anos 60 e começo dos 70, iniciou-se junto às classes médias do Sudeste a recuperação das raízes de nossa civilização, reflexo de um movimento cultural muito mais amplo, denominado Contracultura. Nos Estados Unidos e na Europa, e daí para o Brasil, esse movimento questionava as verdades da civilização ocidental, o conhecimento universitário tradicional, a superioridade dos padrões burgueses vigentes, os valores estéticos europeus, voltando-se para as culturas tradicionais, sobretudo as do Oriente, e buscando novos sentidos nas velhas subjetividades, em esquecidos valores e escondidas formas de expressão. No Brasil verificou-se um grande retorno à Bahia, com a redescoberta de seus ritmos, seus sabores culinários e toda a cultura dos candomblés. As artes brasileiras em geral (música, cinema, teatro, dança, literatura, artes plásticas) ganharam novas referências, o turismo das classes médias do Sudeste elegeu novo fluxo em direção a Salvador e demais pontos do Nordeste. O candomblé se esparramou muito rapidamente por todo o país, deixando de ser um religião exclusiva de negros, a música baiana de inspiração negra fez-se consumo nacional, a comida baiana, nada mais que comida votiva dos terreiros, foi para todas a mesas, e assim por diante. 






Mas o candomblé somente se disseminou pelo Brasil muito tempo depois da difusão da umbanda. Primeiro o Brasil como um todo conheceu e se familiarizou com o culto dos caboclos e outras entidades "humanas" da umbanda, em que os orixás ocupavam uma posição simbólica importante porém menos decisiva no dia-a-dia da religião. Somente mais tarde o candomblé introduziu os brasileiros de todos os lugares numa religião propriamente de deuses africanos. Mesmo assim, os caboclos nunca perderam o lugar que já tinham conquistado. Unidade e diversidade foram preechendo a tessitura nacional da cultura afro-brasileira de âmbito religioso e profano.






Em todos os lugares onde se constituiu o culto ao caboclo, alguns tipos sociais regionais importantes foram incorporados. Foi assim que surgiu, por exemplo, para compor com o tradicional e destemido índio da terra e com o sábio e paciente escravo preto-velho, o caboclo boiadeiro. O boiadeiro é a representação mítica do sertanejo nordestino, o mestiço valente do sertão. É o bravo homem acostumado a lidar com o gado e enfrentar as agruras da seca, símbolo de resistência e determinação. Outro tipo social elevado à categoria de entidade de culto foi o marinheiro. Num país em que as viagens de longa distância, sobretudo entre as capitais da costa, eram feitas por navegação de cabotagem, sendo que todas as novidades eram trazidas pelos navios, o marinheiro era figura muito conhecida e de inegável valor. O marinheiro podia representar ideais de mobilidade e inovação, capacidade de adaptação a cenários múltiplos, amor pela aventura de descobrir novas cidades e outras gentes.






Cada tipo um estilo de vida, cada personagem um modelo de conduta. São exemplos de um vasto repertório de tipos populares brasileiros, emblemas de nossa origem plural, máscaras de nossa identidade mestiça. As entidades sobrenaturais da umbanda não são deuses distantes e inacessíveis, mas sim tipos populares como a gente, espíritos do homem comum numa diversidade que expressa a diversidade cultural do próprio país. Uma vez escrevi que a "umbanda não é só uma religião, ela é um palco do Brasil" (Prandi, 1991: 88). Não estava errado.






V


A aproximação com o kardecismo foi vital para a formação da umbanda em termos ideológicos (Negrão, 1996). Veio do espiritismo de Kardec a concepção de mundo que proporcionou a remodelação das bases éticas, ou aéticas, da religião afro-brasileira, fosse ela africana ou cabocla. Era o nascimento da umbanda, de feições brancas, porém mestiça, uma nova forma de organizar e unificar nacionalmente as tradições caboclas das religiões afro-brasileiras.






Surgida na cidade do Rio de Janeiro, o primeiro cenário da modernização cultural brasileira e contexto de acelerada mudança e diversificação social, a umbanda foi ao mesmo templo plural e uniforme, uma espécie de linguagem comum num diversificado meio social urbano, integrando negros pobres iletrados e brancos escolarizados de classe média baixa. Sua capacidade de reunir em um só panteão entidades espirituais de diversas origens, a fazia uma representante da diversidade, ao mesmo tempo que homogeneizava os espíritos caboclos em função de seus papéis rituais. A umbanda manteve da matriz africana o culto aos orixás, o transe de possessão e o rito dançado, mas seus ritos, celebrados em português, são bem mais simples e acessíveis. Diferente do modelo africano, sua concepção de mundo é fortemente marcada pela valorização da caridade, isto é, o trabalho desinteressado em prol do outro, muito característico do kardecismo, religião de inspiração cristã no plano dos valores.






O controle moral na umbanda se estende sobre a atividade religiosa de tal modo que as entidades espirituais, os espíritos dos mortos, devem praticar a caridade, ajudando seus fiéis e clientes a resolverem toda sorte de problemas. A noção de que os espíritos vêm à Terra para trabalhar é basilar no kardecismo. Igualmente, as práticas de ajuda mágica vão constituir o centro do ritual umbandista. A incorporação da noção cristã de um mundo cindido entre o bem e o mal, associada à necessidade de praticar a caridade, fez com que a umbanda se afirmasse como religião voltada precipuamente para a prática do bem. Todas as forças religiosas deveriam ser canalizadas na prática da caridade. Isso não impediu, no entanto, que junto à prática do bem pelas entidades do chamado panteão do bem ou da direita, surgisse, desde o início, ainda que de modo escondido, uma "face inconfessa" do culto umbandista: uma espécie de universo paralelo em que as práticas mágicas de intervensão no mundo não sofrem o constrangimento da exigência ética, em que todos os desejos podem ser atendidos. Afinal, a herança africana foi mais forte que a moralidade kardecista e impôs a idéia de que todos têm o direito de ser realizados e felizes neste mundo, acima do bem e do mal.






Foi nesse espaço em que a questão do bem e do mal está suspensa que a umbanda construiu um novo modelo de entidade espiritual denominado exu, freqüentemente associado ao diabo dos cristãos. Os exus-diabos da quimbanda na verdade nem são o demônio cristão nem o orixá Exu do candomblé africano. São espíritos de seres humanos cujas biografias terrenas foram plenas de práticas anti-sociais. É nesse modelo que todas os personagens de moralidade questionável, como as prostitutas e os marginais, são acomodados. Para resumir, o bem conta com entidades do bem, que são os caboclos, os pretos-velhos e outros personagem cuja mitologia fala de uma vida de conduta moralmente exemplar (Concone, 2001). São as entidades da direita. Os de má biografia pertencem à esquerda, não se constrangem em trabalhar para o mal, quando o mal é considerado incontornável. Formam as fileiras dos exus e suas contrapartidas femininas, as pombagiras (Prandi, 2001). Compõem com outros tipos sociais já referidos uma espécie de mostruário plural das facetas possíveis do brasileiro comum. Para não integrar os exus e pombagiras no mesmo espaço das entidades da direita, em que se movimentam os praticantes do bem, a umbanda os reuniu num espaço à parte, num culto que por muitas décadas foi mantido subterrâneo, escondido e negado, a chamada quimbanda. Tipos anti-sociais e indesejáveis sim, mas excluídos não — afinal, cada um com sua espiritualidade e sua força mágica nada desprezível. A umbanda não exclui ninguém, na busca de uma síntese para o Brasil nada pode ser deixado de fora.






No panteão das entidades da esquerda, as mulheres ganharam um lugar especial. As religiões tradicionais sempre trataram as mulheres como seres perigosos, voltadas para o feitiço, para o desencaminhamento dos homens, fontes de pecado e perdição. É o que nos conta o mito bíblico judaico-cristão de Eva e toda a tradição iorubá das velhas mães feiticeiras, as Iá Mi Oxorongá. As pombagiras teriam sido mulheres de má vida; elas desconhecem limites para a ação e são capazes, a fim de atender os desejos de seus devotos e de sua vasta clientela, de fazer o mal sem medir as conseqüências. As famosas pombagiras, os exus femininos, foram em vida mulheres perdidas, prostitutas, cortesãs, companheiras bandidas dos bandidos amantes, alcoviteiras e cafetinas, jogadoras de cassino e artistas de cabaré, atrizes de vida fácil, mulheres dissolutas, criaturas sem família e sem honra. A elas coube sobretudo a fatia da magia relacionada a assuntos amorosos. No fundo, o culto ao panteão dos exus e pombagiras aponta para a redenção de tipos sociais usualmente rejeitados, com a assunção de perversões da alma que se enredam na vida real e na fantasia do homem e da mulher comuns.






Como já disse, a umbanda é resultante de um processo de síntese, de uniformização. A inclusão em seus panteão de personagens dos cultos caboclos regionais teve que obedecer ao modelo dicotômico da direita e da esquerda, e isso provocou transformações radicais em muitas entidades que migraram para a umbanda. Assim Zé Pelintra, por exemplo, que na origem é um mestre do catimbó, foi, no Rio de Janeiro, transmutado em exu, trabalhando para a esquerda. Igualmente Maria Padilha, originalmente também mestra da jurema, foi feita pombagira de renome e sucesso nas giras de quimbanda. Até mesmo a encantada Cabocla Mariana, filha do Rei da Turquia, figura famosa da encantaria do tambor-de-mina, muito festejada tanto Maranhão quanto no Pará (Leacock e Leacock, 1975), viu-se em São Paulo quase transformada em pombagira. O mesmo aconteceu com muitos outros guias espirituais.






Uma vez que a umbanda foi se alastrando pelo Brasil inteiro, os cultos caboclos regionais, que se mantiveram vivos em seus locais de origem, começaram a passar por um processo de umbandização. Hoje, no sertão do Nordeste, quiçá no Brasil todo, é difícil ver um culto de jurema que não seja no interior de um terreiro de umbanda. Até na Bahia, exus da quimbanda dançam em velhos terreiros do candomblé de caboclo (Assunção, 2001; Caroso e Rodrigues, 2001; Shapanan, 2001). Com o grande trânsito que hoje existe em todo o universo religioso afro-brasileiro, personagens como os referidos Zé Pelintra e Maria Padilha retornam aos seus locais de origem completamente transformados.



VI



Mas essa história ainda não terminou. Há algum tempo o pluralismo religioso brasileiro vem se desenvolvendo amplamente, possibilitando a criação de um mercado mágico-religioso em que as religiões afro-brasileiras se expandem e ganham maior visibilidade. Cada vez mais as escolhas religiosas são livres e as religiões ampliam suas ofertas religiosa, adequando-se aos novos tempos, novos mercados, novos gostos religiosos. Por todo lado há novas religiões, novos santos, novos deuses. Nos dias de hoje, a religião tem que se atualizar para poder competir com as outras. A sociedade em permanente mudança impõe um novo movimento de valorização da diversidade cultural. Os antigos cultos caboclos de caráter regional vão também se tornando conhecidos nos mais diferentes rincões do país e suas entidades ganham o status de objetos de culto de âmbito nacional. Caminhos se refazem, personagens se reconstituem. Não é mais tempo de buscar uma identidade brasileira que seja única, homogênea, capaz de representar a nacionalidade num só símbolo, como ocorreu nos anos 20 e 30 do século passado. No final do século XX, alvorecer do XXI, quando a umbanda já é quase centenária, importa agora enfatizar as diferenças, manter as especificidades, festejar o pluralismo.






Nossos personagens sagrados, nossos mestiços espíritos caboclos da umbanda também ganham novas feições nesse novo processo de busca da diversidade, pois é preciso sempre se atualizar. O caboclo e o preto-velho são as entidades fundantes da umbanda e continuam sendo ainda as mais cultuadas. Índio e negro são matrizes tanto do povo brasileiro como dessa religião, mas, já no contexto do Brasil urbano contemporâneo, em que o catolicismo já perdeu cerca de um quarto de seus seguidores e seus modelos de moralidade dual perdem importância na sociedade, outro tipo social vem ganhando cada vez mas adeptos no universo umbandista: o baiano (Souza, 2001). Surgido nas últimas décadas, o baiano já ganhou significativa popularidade. Sua origem mítica remete aos velhos pais-de-santo da Bahia, aos homens negros e mulatos das cidades litorâneas do Brasil, sobretudo migrantes residentes no Rio de Janeiro. São em grande parte personagens da chamada malandragem carioca, pouco afeitos às convenções sociais, mas que não chegam a ser interesseiros e maus-caracteres nem arruaceiros e perigosos como os exus da quimbanda. Nem tampouco são exímios curandeiros como os caboclos ou sábios conselheiros como os pretos-velhos. Estão exatamente na fronteira entre o bem e o mal, apagando essa distinção dicotômica moral. E rapidamente a umbanda vai deixando se fazer distinção entre esses dois lados, o do bem e o do mal, reassumindo a visão africana de que tudo anda junto, tudo é ambíguo e contraditório. Talvez por isso os baianos vêm sendo tão valorizados. Eles são símbolos exemplares do novo caráter de síntese moral umbandista que vai abandonando a dualidade cristã. Assim, apaga-se a fronteira entre a direita e a esquerda, e os exus e as pombagiras vão deixando de ser vistos como entidades perigosas, suspeitas e socialmente indesejáveis, cujo culto devia ser mantido secreto, escondido. Zé Pelintra e Maria Padilha, nossos emblemáticos migrantes, já podem voltar a ser mestres da jurema, simplesmente. A encantada Mariana pode continuar a ser a Bela Turca.






A flexibilidade e a enorme capacidade de adaptação da religião mestiça afro-brasileira estava já, evidentemente, inscrita no seu nascedouro: é esta a herança dos bantos escravizados no Brasil e seus descendentes. Seus seguidores nos dias de hoje já não são mais necessariamente nem bantos e nem negros, mas brasileiros de todas as origens raciais que partilham desse universo religioso mestiço. São adeptos dos encantados caboclos que se reúnem em congressos e seminários para discutir o caráter de suas entidades e guias espirituais e questionar suas raízes, reafirmando sua crença em sua religião. Os fiéis crêem que seus caboclos, mestres e encantados, de todas as origens, seguem em sua dança de transe, abrindo-lhes o caminho na religação deste mundo material e passageiro dos humanos ao mundo eterno e espiritual habitado pelos deuses.



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Prandi é Professor Titular de Sociologia da Universidade de São Paulo. Em 2001 recebeu o Prêmio Érico Vannucci Mendes, outorgado pelo CNPq, SBPC e Minc, pela sua contribuição à preservação da memória cultural afro-brasileira, e o Prêmio União na Diversidade, conferido pelo Intecab, Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira. Em 2002 teve dois livros indicados para o Prêmio Jabuti: Mitologia dos orixás, na categoria ciências humanas, e Os príncipes do destino, na categoria infanto-juvenil. Publicou também outros livros, como Os candomblés de São Paulo, Herdeiras do axé, Um sopro do Espírito, A realidade social das religiões no Brasil, este em co-autoria com Antônio Flávio Pierucci, Encantaria brasileira, do qual é organizador, e Ifá, o Adivinho.