quinta-feira, 14 de abril de 2011

ENTREVISTA

MINHA CONTRIBUIÇÃO PARA O TCC DO OMORISÁ DE UMA GRANDE AMIGA MINHA, ESPERO TER SIDO VERDADEIRO NAS RESPOSTAS E TER EXPRESSADO DE MANEIRA CLARA E OBJETIVA, A QUEM POSSA INTERESSAR SEGUE O QUESTIONAMENTO ABAIXO,


ABRAÇOS.




PESQUISA PARA PARA TCC.

Pesquisa:

Minha pesquisa tem como objetivo mostrar a falta de opção que nós temos de informações e programas referente as Religiões Afro-Brasileira (Umbanda, Candomblé, Batuque etc). Também pretendo mostrar que na televisão quando se fala do assunto é de forma pejorativa e preconceituosa. É importante pesquisar esse tema uma vez que nós povo de santo sofremos ataques e preconceitos quanto a religião e cultura que escolhemos para as nossas vidas e conhecendo a Constituição Federal, no artigo 5º, VI, que estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias pretendo mostrar o não cumprimento da lei por parte de religiões cristãs e tentar levar a frente esta discução para possível debate na Universidade de Santo Amaro - UNISA a qual me da o direito de apresentação de temas e projetos de meu interesse. 

Com tudo aguardo a ajuda sincera e honesta de quem puder ajudar,


Dados básicos:

Nome completo: Thiago S. Silva ( Babalorisá Nino D’Odé )
 sexo: Masculino
cor: Moreno claro
Cidade de residência: Praia Grande
Religião: Candomblé Nação KETU.

Questionário:

Conte um pouco de sua vida antes de entrar na religião, se já passou por alguma outra religião pode contar também pois quanto mais informação melhor;

Sempre fui dedicado a espiritualidade, nasci e cresci dentro de terreiro de Umbanda na qual minha avó paterna é zaladora até hoje, aprendi desde novo cultuar e a zelar pelos mandamentos espiritualistas, nesse meio tempo houve a separação de meus pais, sem entender muito e pelo motivo da separação me desliguei da religião, procurando a igreja evangélica AVIVAMENTO DA FÈ onde me tornei levita e assim tocava nos acordes na igreja, sempre com o lado espiritual muito aguçado era levado em diversas igrejas para orar por revelação e louvar os hinos, até que um dia o pastor me convocou junto com meus responsáveis (por eu ser menor) e pediu que procurasse um local para me cuidar devido meu dom ser muito forte e que assim fugia do entendimento deles, daquele momento em diante nunca mais procurei a igreja; Em um domingo ao visitar a casa de minha avó estava tendo uma festividade de caboclo, ao adentrar não me recordo de absolutamente nada, segundo as pessoas presentes contam que uma entidade chamada caboclo PENA AZUL tinha dominado o meu corpo, deu o nome dele e permaneceu ali por algum tempo, devido a essa experiência e muitas outras nunca mais sai da religião, procurei uma casa de candomblé e com 13 anos de idade fui iniciado ao culto de Odé, orixá que rege meu Orí.

Qual o lado positivo e o lado negativo da religião?

O lado negativo de qualquer religião hoje em dia é o charlatanismo, falta de pessoas qualificadas para exercer funções dentro da religião, essas pessoas que talvez por falta de fé ou por falta de experiência fazem a má visão que todos vêem pelos meios de comunicações entre outros, outro ponto acredito ser o fanatismo, o fanatismo torna as pessoas egoístas, achando que são donas da razão e que podem fazer uma lavagem cerebral nas pessoas, religião é um tópico delicado, cada pessoa tem de sentir no seu mais intimo a necessidade e o conforto em estar em tal crença, a religião orisá tem sua cultura, sua história, sua ênfase; o importante é que ainda temos pessoas que fazem a boa fé, que dedicam suas vidas ao bem comum, ajudando os necessitados, auxiliando as pessoas de pouca fé, exercendo trabalhos sociais, procurando a melhoria de si e das pessoas que o cercam, isso sem dúvida torna-se primordial o lado positivo da religião.

O que te motiva a continuar na religião?

O que mais me motiva a continuar na religião primeiro é o amor que tenho pelo meu Orisá, depois a necessidade que tenho em ajudar as pessoas, hoje vivemos em um mundo doente, carente, vemos tantas drogas, filhos matando pais e vários outros motivos, que tocam meu coração a continuar acreditar que a fé faz a diferença nas pessoas, e para despertar essa fé temos de ter sacerdotes que queiram acreditar em um mundo melhor.

O que é a questão do orixá pra você?

Orisá no meu ponto de vista, é a natureza, é a pureza, é o mar, é o ar, é o fogo, é a fé, orisá é tudo que nos cerca, é o amor em primeiro lugar, é a missão que dedicamos a nós mesmos em ajudar, sempre digo que, para amarmos orisá temos de primeiro de tudo amar nossos pais respeitar e cuidar, porque: quem não ama e não respeita sua mãe, por exemplo, como poderá amar orisá ? ter fé e querer caminhar com orisá, é deixar os vícios mundanos, é largar de lado a promiscuidade e se dedicar a uma vida melhor.

Conte um pouco da abertura de sua casa de ilê e/ou umbanda;

Sou herdeiro de um ilê asé, na qual tomei posse no ano de 2007, onde no mesmo ano me filiei como presidente espiritual e sacerdote religioso da religião matriz africana na União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil, presidida por Jamil Rachid. Eu aos 15 anos fui apresentado como Babakekere do ilê, sendo considerado na cidade de Osasco o Pai-Pequeno mais jovem sendo homenageado pela federação do Falecido Sr. Furlan, assumi meu posto e aos 20 anos de idade após ter tomado meu OYÊ assumi o Cargo de Babalorisá do Ilé Asé situado na cidade de Osasco. Assumi a casa de candomblé sabendo da responsabilidade e da intolerância religiosa que sofremos, mas continuo sendo verdadeiro e ético acreditando que um dia teremos vitoria sobre a ignorância dos não adeptos; a maior ignorância é não ser capaz de respeitar a diversidade religiosa e cultural de um país como o nosso.



Quanto a mídia, quando você procura informações sobre a religião, qual é o melhor meio de comunicação pra se encontrar;

O melhor meio na minha opinião é seguir suas raízes, conversar com os mais velhos, ter a humildade de procurar entender e saber com seus zeladores de orisás, hoje temos muitos meios como a INTERNET por exemplo, nem sempre o que vemos na internet é a realidade da religião, a comunicação virtual ensina muito, mas eu acredito que o verdadeiro aprendizado esta no dia-a-dia dentro da roça de santo, aprendendo com os mais velhos, vendo como realmente é a historia da religião no decorrer da vida espiritual, os meios que temos hoje é o ponto fundamental do charlatanismo, pois com a facilidade de encontrar assuntos diversos faz com que as pessoas não necessitem ter tempo e idade de santo para poder ensinar, qualquer um hoje em dia pode se passar como sacerdote, e fazer vidas inocentes errar em acreditar no erro.

Você considera que a televisão brasileira mostra a religião de maneira pejorativa?

Com toda certeza, vemos na televisão variações de placas evangélicas que pregam diariamente suas tradições, vemos também o catolicismo agindo entre outras, mas e a religião orisá ??? vemos raramente trechos em novelas e mesmo assim mostram de maneira ignorante, mostra o feiticeiro fazendo maldade ou trabalho para o amor, é complicado, na realidade falta mostrar a tradição, falta mostrar que a religião afro-descendente tem a ver com a história do Brasil, é uma das religiões mais velhas, tem de mostrar os ritos dos índios que ocupavam nosso país, mas ainda precisamos nos unir cada vez mais para fazer com que esses temas aflorem nos meios de comunicações existentes.

Você já viu sua religião ser atacada na tv e/ou rádio?

Sim, varias vezes, sofremos essa ignorância diariamente nos meios de comunicações, pastores fazendo exorcismos e usando nomes de entidades, mostrando de maneira errante os trabalhos que são entregues em matas cachoeiras e encruzilhadas, ataques diretos nos chamando de feiticeiros, filhos das trevas entre outros.

Qual o melhor canal pra se ver algo da religião se existir é claro.

Melhor canal é conhecer a religião de perto, observar, analisar e sentir na pele o que é amar a religião, procurar ser um entendedor ativo sobre os nossos direitos legais, ser um bom filho para um dia ser um bom pai.

Você considera que a tv apenas estimula o preconceito ao invés de amenizá-lo?

Depende da matéria que esta sendo estudada, se for uma matéria coerente com a doutrina a hábitos com certeza vai ser amenizar o preconceito, graças a Olodumaré e as Orisás temos pessoas que já fazem esse trabalho na mídia, agora se for por outro lado, na qual vemos 95% estimula sim o preconceito.


 Já sofreu preconceito quanto a religião? conte;

Sim varias vezes, mas um caso que posso contar aqui, é de um pastor que abriu uma igreja evangélica a mais ou menos 5 casas na lateral de meu Ilé, sendo meu ilé como disse em uma das questões acima, uma casa de herança, tendo 30 anos de fundada, durante um domingo eu estava tocando para Boiadeiro e no findar do toque, eu já estava descansando quando chamaram, um filho de santo foi atender, voltou e me chamou disse que o pastor da igreja queria falar comigo, prontamente eu fui atende-lo, perguntei no que eu podia ajudar, ele me pediu para fazer menos barulho, disse que eu perturbava ele durante o culto, que os atabaques prejudicava no decorrer da palavra santa e tudo mais, falou que eu fazia ato satânico e varias outras coisas, vendo o pastor exaltado me observando como se eu fosse a pior pessoa do mundo, respondi educadamente; meu amigo o senhor fundou essa igreja a pouco tempo, quando o senhor chegou aqui eu já estava, e antes de mim muitas outras pessoas cultuavam aqui nesse mesmo local, eu faço menos barulho sem problema nenhum, se firmarmos um trato aqui, com a aceitação dele eu expliquei, expulse menos espíritos que buscam uma palavra na sua igreja, porque eu também me canso de auxiliar os problemas que o senhor poderia resolver la dentro mesmo, da mesma forma que o senhor tem direito de pregar o evangelho na praça e o padre fazer a procissão dele eu tenho direitos legais que me permitem fazer uma entrega na encruzilhada e tocar o meu tambor, e a mesma lei do barulho o senhor se enquadra. Hoje eu passo na rua e o mesmo pastor que veio me acusar me cumprimenta e me respeita, temos de agir não com medo de quem nos ofende,  temos de saber nos portar e falar e gritar chega a intolerância religiosa.



Eu Babalorisá Nino de D’Odé, agradeço imensamente a oportunidade de responder as questões a mim solicitadas, agradeço a Deus e a Orisá, e deixo uma frase para reflexão de todos:


 "A Umbanda e o Candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrário da maioria das religiões" (Pierre Verger)

Obrigado, Nino.






Grato desde então,

Allan Cassim
ignorância é não ser capaz de respeitar a diversidade religiosa e cultural de um país como o nosso...







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